- Mil
navios! - os cabelos castanhos da pequena rainha estavam desgrenhados
e despenteados, e a luz dos archotes fazia suas faces parecerem
coradas, como se tivesse acabado de sair dos braços de algum homem.
- Vossa Graça, isso tem de ter uma resposta violenta! - sua última
palavra ressoou nas vigas e ecoou pela cavernosa sala do trono.
Sentada
em seu cadeirão dourado e carmesim, sob o Trono de Ferro, Cersei
sentia um crescente aperto no pescoço. Tem, pensou. Ela se atreve a
me dizer “tem ”. Sentiu o impulso de esbofetear a garota Tyrell.
Devia estar de joelhos, suplicando minha ajuda. Em vez disso, ousa
dizer à sua legítima rainha o que ela tem de fazer.
- Mil
navios? - Sor Harys Swyft respirava ruidosamente. - Com certeza não.
Não há nenhum senhor que comande mil navios.
- Um tolo
assustado qualquer contou em dobro - concordou Orton Merryweather. -
É isso, ou são os vassalos de Lorde Tyrell que estão mentindo para
nós, exagerando os números do inimigo para que não os achemos
frouxos.
Os
archotes da parede do fundo faziam estender a longa sombra farpada do
Trono de Ferro por metade da distância até as portas. A extremidade
mais distante do salão estava perdida na escuridão, e Cersei não
conseguia evitar sentir que as sombras também estavam se fechando em
volta de si. Meus inimigos estão por toda parte, e meus amigos são
incapazes. Bastava-lhe olhar os conselheiros de relance para saber
que assim era; só Lorde Qyburn e Aurane Waters pareciam acordados.
Os outros tinham sido tirados da cama pelos mensageiros de Margaery
batendo em suas portas, e estavam ali, amarrotados e confusos. Lá
fora, a noite estava negra e silenciosa. O castelo e a cidade
dormiam. Boros Blount e Meryn Trant pareciam estar também, embora em
pé. Até Osmund Kettleblack bocejava. Mas Loras não. Nosso
Cavaleiro das Flores não. Estava em pé atrás da irmã mais nova,
uma sombra pálida com uma espada longa à anca.
- Metade
desse número de navios ainda seria quinhentos, senhor - fez Waters
notar a Orton Merryweather. - Só a Árvore tem força no mar
suficiente para se opor a uma frota desse tamanho.
- E os
seus novos dromones? - Sor Harys questionou. - Com certeza os
dracares dos homens de ferro não poderão resistir aos nossos
dromones. O Martelo do Rei Robert é o mais poderoso navio de guerra
de todo Westeros.
- Era -
Waters rebateu. - O Doce Cersei será seu igual, depois de concluído,
e o Lorde Tywin terá duas vezes o tamanho de ambos. Mas só metade
deles se encontra equipada, e nenhum tem a tripulação completa.
Mesmo quando tiverem, os números se manterão frontalmente contra
nós. O dracar comum é pequeno comparado com as nossas galés, é
verdade, mas os homens de ferro também têm navios maiores. O Grande
Lula Gigante de Lorde Balon e os navios de guerra da Frota de Ferro
foram feitos para a batalha, não para ataques de corso. São iguais
às nossas galés, menores em velocidade e força, e a maior parte
encontra-se mais bem tripulada e capitaneada. Os homens de ferro
vivem a vida inteira no mar.
Robert
devia ter limpado as ilhas depois de Balon Greyjoy ter se levantado
contra ele, Cersei pensou. Esmagou a sua frota, queimou suas vilas e
quebrou seus castelos, mas quando os teve de joelhos, voltou a
largá-los. Devia ter criado outra ilha com seus crânios. Era isso
que seu pai teria feito, mas Robert nunca teve o estômago necessário
a um rei com a esperança de manter a paz no reino.
- Os
homens de ferro não se atrevem a atacar a Campina desde o tempo em
que Dagon Greyjoy ocupou a Cadeira de Pedra do Mar - Cersei disse. -
Por que o fariam agora? O que os encorajou?
- Seu
novo rei - Qyburn estava com as mãos escondidas nas mangas. - Irmão
de Lorde Balon. Chamam-no Olho de Corvo.
- Os
corvos fazem seus banquetes nas carcaças dos mortos e moribundos -
disse o Grande Meistre Pycelle. - Não descem sobre animais vigorosos
e saudáveis. Lorde Euron irá se empanturrar de ouro e saque, sim,
mas assim que nos movermos contra ele, regressará a Pyke, como Lorde
Dagon costumava fazer nos seus tempos.
-
Engana-se - Margaery Tyrell interveio. - Corsários não atracam com
tais forças. Mil navios! Lorde Hewett e Lorde Chester foram mortos,
assim como o filho e herdeiro de Lorde Serry, que fugiu para Jardim
de Cima com os poucos navios que lhe restaram, e Lorde Grimm é
prisioneiro em seu próprio castelo. Willas diz que o rei de ferro
promoveu quatro lordes seus para os lugares dos nossos.
Willas,
pensou Cersei, o aleijado. A culpa disso é dele. Aquele idiota do
Mace Tyrell deixou a defesa da Cam pina nas mãos do desgraçado de
um fracote.
- Das
Ilhas de Ferro às Escudo é uma longa viagem - fez notar. - Como
podem mil navios ter percorrido toda essa distância sem serem
vistos?
- Willas
crê que não seguiram a costa - Margaery respondeu. - Fizeram a
viagem fora de vista de terra, penetrando profundamente no Mar do
Poente e caindo sobre a costa vindos de Oeste.
O mais
provável é que o aleijado não tivesse as torres de vigia
guarnecidas, e agora teme que descubramos. A pequena rainha está
inventando desculpas pelo irmão. Cersei tinha a boca seca. Preciso
de uma taça de dourado da Árvore. Se os homens de ferro decidissem
tomar a Arvore em seguida, logo o reino inteiro poderia estar
passando sede.
- Stannis
pode ter tido um dedo nisso. Balon Greyjoy ofereceu ao senhor meu pai
uma aliança. O filho talvez tenha oferecido uma a Stannis.
Pycelle
franziu as sobrancelhas.
- O que
Lorde Stannis ganharia com...
- Ele
ganha outra base de operações. E saque. Isto também, Stannis
precisa de ouro para pagar seus mercenários. Ao assaltar o oeste,
espera poder nos distrair de Pedra do Dragão e Ponta Tempestade.
Lorde
Merryweather assentiu com a cabeça.
- Uma
diversão. Stannis é mais astucioso do que julgávamos. Vossa Graça
é esperta por ter descortinado o plano.
- Lorde
Stannis está tentando ganhar os nortenhos para sua causa - disse
Pycelle. - Se fizer amizade com os nascidos no ferro, não pode
esperar...
- Os
nortenhos não o aceitam - Cersei rebateu, perguntando a si mesma
como poderia um homem tão erudito ser tão estúpido. - Lorde
Manderly cortou a cabeça e as mãos do Cavaleiro das Cebolas,
sabemos disso pelos Frey, e meia dúzia de outros senhores do Norte
juntaram-se a Lorde Bolton. O inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Para onde mais Stannis há de se virar, além dos homens de ferro e
dos selvagens, os inimigos do Norte? Mas, se julga que vou cair em
sua armadilha, é mais tolo do que você - virou-se novamente para a
pequena rainha. - As Ilhas Escudo pertencem à Campina. Grimm, Serry
e os outros estão juramentados a Jardim de Cima. Cabe a Jardim de
Cima dar resposta a isto.
- Jardim
de Cima responderá - disse Margaery Tyrell. - Willas mandou uma
mensagem a Leyton Hightower, em Vilavelha, para que trate de suas
defesas, Garlan está reunindo homens para voltar a tomar as ilhas.
Mas a maior parte de nossas forças permanece com o senhor meu pai.
Temos de lhe enviar uma mensagem para Ponta Tempestade.
Imediatamente.
- E
levantar o cerco? - Cersei não gostou da presunção de Margaery.
Ela me diz “imediatamente” Será que me toma por sua aia? - Não
tenho nenhuma dúvida de que isso agradaria a Lorde Stannis. Está me
ouvindo, senhora? Se ele conseguir afastar nossos olhos de Pedra do
Dragão e Ponta Tempestade para esses rochedos...
-
Rochedos? - Margaery arquejou. - Vossa Graça disse rochedos?
O
Cavaleiro das Flores pousou a mão no ombro da irmã.
- Se
Vossa Graça me permitir, a partir desses rochedos os homens de ferro
ameaçam Vilavelha e a Árvore. A partir de praças-fortes nos
Escudos, atacantes podem subir o Vago até o próprio coração da
Campina, como faziam antigamente. Com homens suficientes, podem até
ameaçar Jardim de Cima.
- É
mesmo? - a rainha retrucou, toda inocente. - Ora, então é melhor
que seus bravos irmãos os escorracem desses rochedos, e depressa.
- Como
sugeriria a rainha que o façam, sem navios em número suficiente? -
perguntou Sor Loras. - Willas e Garlan podem recrutar dez mil homens
dentro de uma quinzena e duas vezes esse número em uma volta de lua,
mas não são capazes de caminhar sobre a água, Vossa Graça.
-Jardim
de Cima ergue-se sobre o Vago - Cersei lembrou-lhe. -Vocês e seus
vassalos controlam mil léguas de litoral. Não haverá pescadores ao
longo de suas costas? Não têm barcaças de prazer, não têm botes,
não têm galés fluviais, não têm esquifes?
- Muitos,
e mais ainda - admitiu Sor Loras.
- Barcos
como esses devem ser mais do que suficientes para levar uma hoste
através de uma pequena extensão de água, julgo eu.
- E
quando os dracares dos nascidos no ferro caírem sobre nossa frota
improvisada enquanto tenta atravessar essa “pequena extensão de
água” o que Vossa Graça acha que devemos fazer então?
Afogar-se,
Cersei respondeu em pensamento.
-Jardim
de Cima também tem ouro. Tem a minha autorização para contratar
mercenários do outro lado do mar estreito.
- Piratas
de Myr e Lys, é isso o que quer dizer? - perguntou Loras com
desprezo. - A escória das Cidades Livres?
É tão
insolente quanto a irmã.
- Lamento
dizê-lo, mas todos nós temos de lidar com escória de vez em quando
- disse, com uma doçura venenosa. - Talvez tenha uma ideia melhor?
- Só a
Árvore tem galés em número suficiente para recuperar a foz do Vago
das mãos dos homens de ferro e proteger meus irmãos de seus
dracares durante a travessia. Suplico a Vossa Graça, envie uma
mensagem para Pedra do Dragão e ordene a Lorde Redwyne para içar
imediatamente as velas.
Pelo
menos tem o bom-senso de suplicar. Paxter Redwyne possuía duzentos
navios de guerra, e cinco vezes esse número em carracas mercantes,
cocas de vinho, galés comerciais e baleeiros. Contudo, encontrava-se
acampado à sombra das muralhas de Pedra do Dragão, e a maior parte
de sua frota estava ocupada com travessias da Baía da Água Negra,
transportando homens para o assalto dessa fortaleza insular. O
restante patrulhava a Baía dos Naufrágios, ao sul, onde só sua
presença impedia que Ponta Tempestade fosse reabastecida por mar.
Aurane
Waters irritou-se com a sugestão de Sor Loras.
- Se
Lorde Redwyne fizer zarpar seus navios, como vamos abastecer nossos
homens em Pedra do Dragão? Sem as galés da Árvore, como manteremos
o cerco a Ponta Tempestade?
- O cerco
pode ser retomado mais tarde, depois de...
Cersei o
interrompeu.
- Ponta
Tempestade é cem vezes mais valiosa do que os Escudos, e Pedra do
Dragão... enquanto permanecer nas mãos de Stannis Baratheon, é uma
faca na garganta do meu filho. Libertaremos Lorde Redwyne e sua frota
quando o castelo cair - a rainha se levantou. - Esta audiência
chegou ao fim. Grande Meistre Pycelle, uma palavra.
O velho
sobressaltou-se, como se a voz de Cersei o tivesse acordado de algum
sonho de juventude, mas antes de ter tempo de responder, Loras Tyrell
avançou a passos largos, com uma tal rapidez que a rainha se
retraiu, alarmada. Estava prestes a gritar pela defesa de Sor Osmund
quando o Cavaleiro das Flores caiu sobre um joelho.
- Vossa
Graça, permita-me que tome Pedra do Dragão.
A mão da
irmã subiu à boca.
- Loras,
não.
Sor Loras
ignorou a súplica.
- Levará
meio ano ou mais obrigando Pedra do Dragão à submissão pela fome,
como Lorde Paxter pretende fazer. Dê-me o comando, Vossa Graça. O
castelo será seu dentro de uma quinzena, nem que eu tenha de
derrubá-lo com as mãos nuas.
Ninguém
dava a Cersei um presente tão delicioso desde que Sansa Stark
correra para junto de si a fim de divulgar os planos de Lorde Eddard.
Ficou feliz por ver que Margaery empalidecera.
- Sua
coragem deixa-me sem fôlego, Sor Loras - a rainha disse. - Lorde
Waters, algum dos novos dromones está pronto para ser lançado ao
mar?
- O Doce
Cersei está, Vossa Graça. Um navio rápido e tão forte quanto a
rainha que lhe deu o nome.
-
Magnífico. Que o Doce Cersei leve imediatamente nosso Cavaleiro das
Flores a Pedra do Dragão. Sor Loras, o comando é seu. Jure-me que
não regressará até que Pedra do Dragão pertença a Tommen.
- Juro,
Vossa Graça - e pôs-se em pé.
Cersei
beijou-o em ambas as faces. Também beijou a irmã do cavaleiro e
murmurou:
- Tem um
irmão galante - ou Margaery não teve a elegância de responder, ou
o medo lhe roubara as palavras por completo.
A
alvorada ainda tardava várias horas quando Cersei se esgueirou pela
porta do rei, atrás do Trono de Ferro. Sor Osmund seguia à sua
frente com um archote, e Qyburn ia ao seu lado, caminhando em
pequenos passos, Pycelle tinha de se esforçar para acompanhá-los.
- Se
Vossa Graça me permite - ofegou - os jovens são demasiado ousados e
só pensam na glória da batalha, nunca em seus perigos. Sor Loras...
esse seu plano está repleto de perigos. Assaltar as muralhas de
Pedra do Dragão...
- ... é
de grande coragem.
- ...
coragem, sim, mas...
- Não
tenho dúvida alguma de que o nosso Cavaleiro das Flores será o
primeiro homem a atingir as ameias - e talvez o primeiro a cair. O
bastardo bexiguento que Stannis deixara para defender o castelo não
era nenhum imberbe campeão de torneios, mas um matador experiente.
Se os deuses fossem bons, daria a Sor Loras o fim glorioso que ele
parecia desejar. Assumindo que o rapaz não se afogará no caminho.
Tinha havido outra tempestade na noite anterior, uma das violentas. A
chuva caíra durante horas em lençóis negros. E não seria uma
tristeza? Cismou a rainha. O afogamento é comum. Sor Loras anseia
por glória como os verdadeiros homens anseiam por mulheres, o mínimo
que os deuses podem fazer é conceder-lhe uma morte digna de uma
canção.
Mas não
importa o que acontecesse ao rapaz em Pedra do Dragão, a rainha
sairia vencedora. Se Loras tomasse o castelo, Stannis sofreria um
sério golpe, e a frota Redwyne poderia zarpar para ir ao encontro
dos homens de ferro. Se falhasse, ela se asseguraria de que ele
ficasse com a parte do leão da culpa. Não há nada que faça um
herói perder tanto o brilho do que o fracasso. E se vier para casa
em cima do escudo, coberto de sangue e glória, Sor Osney estará lá
para consolar a irmã aos prantos.
A
gargalhada não podia continuar a ser contida. Saltou de entre os
lábios de Cersei e ecoou corredor afora.
- Vossa
Graça? - pestanejou o Grande Meistre Pycelle, deixando a boca
abrir-se.
- Por
que... por que ri?
- Ora -
ela teve de dizer - de outra forma talvez chorasse. Meu coração
está arrebentando de amor por nosso Sor Loras e por seu valor.
Deixou
Grande Meistre na escada em espiral. Aquele já viveu mais do que
qualquer utilidade que um dia pode ter tido, decidiu a rainha. Tudo
que Pycelle parecia fazer nos últimos tempos era infernizá-la com
avisos e objeções. Até objetara ao entendimento a que chegara com
o Alto Septão, olhando-a de boca aberta e olhos baços e ramelosos
quando lhe ordenara que preparasse os papéis necessários,
balbuciando acerca de história velha e morta, até que Cersei o
interrompeu.
“Os
tempos do Rei Maegor terminaram, e seus decretos também” dissera
com firmeza. “Estes são os tempos do Rei Tommen e meus.” Teria
feito melhor se o tivesse deixado para morrer nas celas negras.
- Se Sor
Loras falhar, Vossa Graça precisará encontrar outro homem digno da
Guarda Real - disse Lorde Qyburn enquanto atravessavam o fosso
coberto de espigões que cingia a Fortaleza de Maegor.
- Alguém
que seja magnífico - ela concordou. - Alguém tão jovem, rápido e
forte que Tommen esqueça tudo sobre Loras. Um pouco de galanteria
não faria mal, mas sua cabeça não deve estar cheia de ideias
tolas. Conhece algum homem assim?
-
Infelizmente, não - Qyburn respondeu. - Tinha em mente outro tipo de
campeão. O que lhe falta em galanteria, lhe daria multiplicado por
dez em devoção. Protegerá seu filho, matará seus inimigos e
guardará seus segredos, e nenhum homem vivo será capaz de lhe dar
resistência.
- Isso é
o que você diz. Palavras são vento. Quando a hora chegar, pode
apresentar esse seu modelo de perfeição e veremos se ele é tudo
aquilo que promete.
-
Cantarão sobre ele, juro - os olhos de Lorde Qyburn enrugaram-se de
divertimento. - Posso lhe perguntar sobre a armadura?
- Fiz a
sua encomenda. O armeiro julga-me louca. Garante-me que nenhum homem
é suficientemente forte para se mover e lutar envergando tal peso de
aço - Cersei deitou ao meistre sem corrente um olhar de aviso. -
Faça de mim tola e morrerá aos gritos. Está consciente disso?
- Sempre,
Vossa Graça.
- Ótimo.
Não diga mais nada sobre isso.
- A
rainha é sensata. Estas paredes têm ouvidos.
- Sim - à
noite, Cersei por vezes ouvia pequenos sons, até em seus próprios
aposentos. Ratos nas paredes, costumava dizer a si mesma, não passa
disso.
Uma vela
ardia junto à sua cama, mas a lareira apagara-se e não havia mais
nenhuma luz. O quarto também estava frio. Cersei despiu-se e
enfiou-se nas mantas, deixando o vestido amontoado no chão. Ao lado,
na cama, Taena moveu-se.
- Vossa
Graça - murmurou em voz baixa. - Que horas são?
- A hora
da coruja - a rainha respondeu.
Embora
Cersei dormisse frequentemente só, nunca gostara daquilo. Suas
memórias mais antigas eram de partilhar uma cama com Jaime, quando
ainda eram tão novos que ninguém os conseguia distinguir. Mais
tarde, depois de serem separados, tivera uma série de companheiras
de cama, a maioria garotas de sua idade, as filhas dos cavaleiros
domésticos ou vassalos do pai. Nenhuma lhe agradara, e poucas
duraram algum tempo. Serpentezinhas, todas elas. Criaturas insípidas
e choronas, sempre contando histórias e tentando se intrometer entre
mim e Jaime. Apesar disso, tinha havido noites, nas negras entranhas
do Rochedo, em que aceitara de bom grado o calor delas ao seu lado.
Uma cama vazia era uma cama fria.
Principalmente
ali. Aquele quarto era gelado, e seu maldito marido real morrera sob
aquele dossel. Robert Baratheon, o Primeiro de Seu Nome, que nunca
haja um segundo. Um brutamontes obtuso e bêbado. Que chore no
inferno, Taena aquecia-lhe a cama tão bem quanto Robert, e nunca
tentava forçá-la a abrir as pernas. Nos últimos tempos, partilhara
mais frequentemente a cama de Cersei do que a de Lorde Merryweather.
Orton não parecia se importar... ou, se se importava, tinha
esperteza suficiente para não dizê-lo.
- Fiquei
preocupada quando acordei e não a vi aqui - murmurou a Senhora
Merryweather, sentando-se e encostando-se nas almofadas, com a colcha
enrolada na cintura.
- Há
algo errado?
- Não -
Cersei respondeu - tudo está bem. Amanhã, Sor Loras partirá para
Pedra do Dragão, a fim de conquistar o castelo, libertar a frota
Redwyne e nos demonstrar a todos sua virilidade - contou à myrana
tudo o que tinha ocorrido sob a sombra oscilante do Trono de Ferro. -
Sem seu valente irmão, nossa pequena rainha está praticamente nua.
Tem seus guardas, com certeza, mas eu tenho visto o capitão por aí,
no castelo. Um velho tagarela com um esquilo no sobretudo. Os
esquilos fogem dos leões. Ele não tem o que é preciso para
desafiar o Trono de Ferro.
-
Margaery tem outras espadas ao seu redor - assegurou a Senhora
Merryweather. - Fez muitos amigos na corte, e tanto ela como as
jovens primas têm admiradores.
- Alguns
pretendentes não me preocupam - Cersei retrucou. - O exército em
Ponta Tempestade, contudo...
- O que
pretende fazer, Vossa Graça?
- Por que
quer saber? - a pergunta foi um pouco direta demais para o gosto de
Cersei. - Espero que não esteja planejando partilhar meus indolentes
devaneios com nossa pobre rainhazinha.
- Nunca.
Não sou a tal Senelle.
Cersei
não queria pensar em Senelle. Ela pagou a minha bondade com traição.
Sansa Stark também assim fizera. E o mesmo tinham feito Melara
Hetherspoon e a gorda Jeyne Farman, quando as três eram garotas.
Nunca teria entrado naquela tenda se não fossem elas. Nunca teria
permitido que Maggy, a Rã, saboreasse meus amanhãs numa gota de
sangue.
- Ficaria
muito triste se alguma vez traísse minha confiança, Taena. Não
teria alternativa exceto entregá-la a Lorde Qyburn, mas sei que
choraria.
- Nunca
lhe darei motivo para chorar, Vossa Graça, Se o fizer, bastará
dizer e eu mesma me entregarei a Qyburn. Só desejo estar perto de
você. Servi-la de todas as formas que me pedir.
- E por
esse serviço, que recompensa espera?
- Nada.
Agrada-me agradá-la - Taena rolou sobre si mesma, pondo-se de lado,
com a pele cor de oliva brilhando à luz das velas. Seus seios eram
maiores do que os da rainha, e terminavam em enormes mamilos, negros
como um chifre. Ela é mais nova do que eu. Seus seios ainda não
começaram a cair. Cersei perguntou a si mesma como seria beijar
outra mulher. Não um beijo ligeiro na bochecha, como era cortesia
comum entre as senhoras de nascimento elevado, mas um beijo intenso
nos lábios. Os de Taena eram muito cheios. Perguntou a si mesma como
seria chupar aqueles seios, deitar a mulher de Myr de costas,
forçá-la a abrir as pernas e usá-la como um homem a usaria, do
modo como Robert a usava quando estava cheio de bebida e ela não
conseguia levá-lo até o fim com a mão ou a boca.
Aquelas
tinham sido as piores noites, em que jazia impotente debaixo dele
enquanto ele se satisfazia, fedendo a vinho e grunhindo como um
javali. Normalmente rolava de cima dela e adormecia assim que
terminava, e já ressonava antes de sua semente ter tempo de secar
nas coxas de Cersei. Depois, ficava sempre dolorida, em carne viva
entre as pernas, com os seios machucados pelos maus-tratos que ele
lhes dava. A única vez que a deixara molhada fora na noite do
casamento.
Robert
era bastante atraente quando se casaram, alto, forte e poderoso, mas
seus cabelos eram negros e pesados, os pelos eram densos no peito e
grossos em volta do sexo. Foi o homem errado que regressou do
Tridente, pensava por vezes a rainha enquanto ele abria caminho
através de seu corpo. Nos primeiros anos, quando a montava com mais
frequência, fechava os olhos e fingia que Robert era Rhaegar. Não
conseguia fingir que era Jaime; era muito diferente, era-lhe estranho
demais. Até seu cheiro era errado.
Para
Robert, essas noites nunca aconteciam. Ao amanhecer, não se lembrava
de nada, ou pelo menos era nisso que queria levá-la a crer. Uma vez,
durante o primeiro ano do casamento, Cersei exprimira seu desagrado
no dia seguinte.
“Machucou-me”
ela tinha então protestado. Ele teve a decência de parecer
envergonhado.
“Não
fui eu, senhora” dissera, num carrancudo tom de amuo, como uma
criança pega roubando bolos de maçã da cozinha. “Foi o vinho.
Bebo vinho demais.” Para empurrar para dentro a admissão,
estendera a mão para o corno de cerveja. Quando o levara à boca,
ela atirara-lhe seu próprio corno à cara, com tanta força que lhe
lascara um dente. Anos mais tarde, num banquete, ouvira-o contar a
uma criada o modo como rachara o dente numa luta corpo a corpo. Bem,
nosso casamento foi um a luta corpo a corpo, refletiu, portanto ele
não mentiu.
Mas todo
o resto tinha sido mentira. Ele se lembrava do que lhe fazia à
noite, estava convencida disso. Conseguia vê-lo em seus olhos. Ele
só fingia esquecer; era mais fácil fazer isso do que enfrentar a
vergonha. Bem lá no fundo, Robert Baratheon era um covarde. Com o
passar do tempo, os ataques foram se tornando menos frequentes.
Durante o primeiro ano, tomava-a pelo menos uma vez a cada quinze
dias; por fim, nem chegava a uma vez por ano. Nunca tinha parado por
completo, contudo. Mais cedo ou mais tarde chegaria sempre uma noite
em que beberia demais e viria reclamar seus direitos. O que o
envergonhava à luz do dia dava-lhe prazer na escuridão.
- Minha
rainha? - Taena Merryweather a tirou de seus pensamentos. - Tem uma
expressão estranha nos olhos. Alguma coisa errada?
- Estava
só... relembrando - tinha a garganta seca. - É uma boa amiga,
Taena. Não tenho uma verdadeira amiga desde...
Alguém
bateu com força à porta.
Outra
vez? A urgência do som a fez estremecer. Terão mais mil navios
caído sobre nós? Enfiou-se num roupão e foi ver quem era.
- Peço
perdão por incomodá-la, Vossa Graça - disse o guarda - mas a
Senhora Stokeworth está lá embaixo e implora por uma audiência.
- A essa
hora? - Cersei explodiu. - Terá Falyse perdido o juízo? Diga-lhe
que me retirei. Diga-lhe que há plebeus nos Escudos sendo
chacinados. Diga-lhe que passei metade da noite acordada. Recebo-a de
manhã.
O guarda
hesitou.
- Se
aprouver a Vossa Graça, ela... ela não está nas melhores
condições, se compreende o que quero dizer.
Cersei
franziu as sobrancelhas. Assumira que Falyse estava ali para lhe
dizer que Bronn se encontrava morto.
- Muito
bem. Terei de me vestir. Leve-a para meu aposento privado e diga-lhe
para esperar - quando a Senhora Merryweather se preparou para se
levantar e ir com ela, a rainha objetou. - Não, fique. Pelo menos
uma de nós deve ter algum descanso. Não demorarei.
O rosto
da Senhora Falyse estava inchado e cheio de manchas negras, os olhos
vermelhos por causa das lágrimas. Tinha o lábio inferior rachado, e
as roupas manchadas e rasgadas.
- Pela
bondade dos deuses - Cersei exclamou enquanto a introduzia no
aposento privado e fechava a porta. - O que aconteceu ao seu rosto?
Falyse
não pareceu ouvir a pergunta.
- Ele o
matou - disse, numa voz trêmula. - Mãe, misericórdia, ele...
ele... - e rebentou em soluços, com o corpo todo estremecendo.
Cersei
serviu uma taça de vinho e a levou à mulher que chorava.
- Beba
isto. O vinho a acalmará. Isso. Um pouco mais. Pare com esse choro e
diga-me por que está aqui.
Foi
preciso o resto do jarro para a rainha finalmente conseguir arrancar
toda a triste história da Senhora Falyse. Quando o fez, não soube
se deveria rir ou se enfurecer.
- Combate
singular - repetiu. Não haverá ninguém nos Sete Reinos com quem eu
possa contar? Serei a única pessoa de Westeros com um pouco de
miolos? - Está me dizendo que Sor Balman desafiou Bronn para um com
bate singular?
- Ele
falou que seria s-s-simples. A lança é uma arma de c-cavaleiro, ele
disse, e B-Bronn não era um verdadeiro cavaleiro. Balman disse que o
derrubaria do cavalo e acabaria com ele enquanto estivesse
a-a-atordoado.
Bronn não
era um cavaleiro, isso era verdade. Era um assassino endurecido pela
batalha. O cretino do seu marido escreveu a própria sentença de
morte.
- Um
plano magnífico. Devo me atrever a lhe perguntar por que terminou
mal?
- B-Bronn
enfiou a lança no peito do pobre c-c-c-cavalo de Balman. Balman,
ele... suas pernas foram esmagadas quando o animal caiu. Ele gritou
tanto que dava dó...
Os
mercenários não têm dó, Cersei podia ter dito.
- Pedi a
vocês para planejar um acidente de caça. Uma flecha perdida, uma
queda do cavalo, um javali furioso... há tantas maneiras de um homem
morrer na floresta. E nenhuma delas envolve lanças.
Falyse
não pareceu ouvi-la.
- Quando
tentei correr para o meu Balman, ele, ele, ele bateu em meu rosto.
Obrigou meu senhor a c-c-confessar. Balman gritava pelo Meistre
Frenken, para que o tratasse, mas o mercenário, ele, ele, ele...
-
Confessar? - Cersei não gostou da palavra. - Confio que nosso bravo
Sor Balman tenha controlado a língua.
- Bronn
enfiou-lhe um punhal no olho e disse-me que era melhor que eu saísse
de Stokeworth antes do pôr do sol, senão o mesmo aconteceria
comigo. Disse que me entregaria à g-g-guarnição, se algum deles me
quisesse. Quando ordenei que Bronn fosse capturado, um de seus
cavaleiros teve a insolência de dizer que eu devia fazer o que Lorde
Stokeworth dizia. Chamou-o Lorde Stokeworth! - Senhora Falyse
agarrou-se à mão da rainha. - Vossa Graça precisa me dar
cavaleiros. Uma centena de cavaleiros! E besteiros, para retomar meu
castelo. Stokeworth é meu! Eles nem sequer me autorizaram ir buscar
minha roupa! Bronn disse que agora era a roupa da mulher dele, todas
as minhas s-sedas e veludos.
Os trapos
são o menor de seus problemas. A rainha libertou seus dedos da mão
pegajosa da mulher.
- Pedi a
vocês para soprar uma vela para ajudar a proteger o rei. Em vez
disso, atiraram um frasco de fogovivo sobre ele. Será que o imbecil
de seu Balman ligou meu nome a isso? Diga-me que não o fez.
Falyse
lambeu os lábios.
- Ele...
ele estava com dores, tinha as pernas quebradas. Bronn disse que lhe
mostraria misericórdia, mas... O que vai acontecer à minha pobre
m-m-mãe?
Imagino
que morrerá.
- O que
acha? - Senhora Tanda podia perfeitamente já estar morta. Bronn não
parecia ser o tipo de homem que faria um grande esforço para tratar
de uma velha com um quadril quebrado.
- Precisa
me ajudar. Para onde irei? O que farei?
Talvez
possa se casar com o Rapaz Lua, Cersei quase disse. É um idiota
quase tão grande quanto seu falecido marido. Não podia se arriscar
a uma guerra à porta de Porto Real, especialmente naquele momento.
- As
irmãs silenciosas sempre ficam felizes por receber viúvas - disse.
- A vida que levam é serena, uma vida de rezas, contemplação e
boas obras. Trazem alívio aos vivos e paz aos mortos - e não falam.
Não podia ter a mulher correndo pelos Sete Reinos, espalhando
histórias perigosas.
Falyse
estava surda perante o bom-senso.
- Tudo
que fizemos, fizemos ao serviço de Vossa Graça. Orgulhosos de ser
Fiéis. Você disse...
- Eu me
lembro - Cersei forçou um sorriso. - Ficará aqui conosco, senhora,
até o momento de acharmos uma maneira de reconquistar seu castelo.
Deixe que lhe sirva outra taça de vinho. Ajudará você a dormir.
Está cansada e com o coração enfermo, isto é evidente. Minha
pobre, querida Falyse. Isso, beba.
Enquanto
sua convidada labutava com o jarro, Cersei foi à porta e chamou as
aias. Disse a Dorcas que encontrasse Lorde Qyburn e o trouxesse ali
imediatamente. Despachou Jocelyn Swyft para as cozinhas.
- Traga
pão e queijo, um empadão de carne e algumas maçãs. E vinho. Temos
sede.
Qyburn
chegou antes da comida. A Senhora Falyse tinha emborcado mais três
taças àquela altura e começava a deixar cair a cabeça, embora de
vez em quando acordasse e soltasse mais um soluço. A rainha
afastou-se com Qyburn e lhe contou a loucura de Sor Balman.
- Não
posso ter Falyse espalhando histórias pela cidade. O desgosto a
deixou fraca de espírito. Ainda precisa de mulheres para o seu...
trabalho?
-
Preciso, Vossa Graça. Os titereiros estão bastante gastos.
- Então
leve-a e faça com ela o que quiser. Mas, uma vez que desça às
celas negras... tenho de dizer mais alguma coisa?
- Não,
Vossa Graça. Eu compreendo.
- Ótimo
- a rainha voltou a colocar um sorriso no rosto. - Querida Falyse,
Meistre Qyburn está aqui. Ele a ajudará a descansar.
- Oh -
Falyse disse vagamente. - Oh, que bom.
Quando a
porta se fechou atrás deles, Cersei serviu-se de mais uma taça de
vinho.
- Estou
cercada de inimigos e imbecis - disse. Nem sequer podia confiar em
seu próprio sangue e família, nem em Jaime, que outrora fora sua
outra metade. Ele deveria ser minha espada e escudo, meu forte braço
direito. Por que insiste em me irritar?
Bronn não
era mais do que um aborrecimento, certamente. Nunca acreditara de
verdade que ele estivesse dando abrigo ao Duende. Seu deformado
irmãozinho era esperto demais para permitir que Lollys desse seu
nome ao maldito bastardo que mal parira, sabendo que isso certamente
atrairia a fúria da rainha sobre ela. A Senhora Merryweather
fizera-o notar, e tinha razão. A troça era certamente obra do
mercenário. Conseguia imaginá-lo observando seu enrugado e vermelho
filho adotivo mamando numa das tetas inchadas de Lollys, com uma taça
de vinho na mão e um sorriso insolente no rosto. Sorria o quanto
quiser, Sor Bronn, não vai demorar até que grite. Desfrute de sua
senhora desmiolada e de seu castelo roubado enquanto pode. Quando a
hora certa chegar, hei de esmagá-lo como se fosse um a mosca. Talvez
devesse enviar Loras Tyrell para o esmagamento, se o Cavaleiro das
Flores conseguisse arranjar um meio de regressar vivo de Pedra do
Dragão. Isso seria delicioso. Se os deuses forem bons, matarão um
ao outro, como Sor Arryk e Sor Erryk. E quanto a Stokeworth... não,
estava cansada de pensar em Stokeworth.
Taena
voltara a adormecer quando a rainha regressou ao quarto com a cabeça
girando. Vinho de mais e sono de menos, disse a si mesma. Não eram
todas as noites que era acordada duas vezes com notícias tão
alarmantes. Pelo menos consegui acordar. Robert estaria bêbado
demais para se levantar, quanto mais governar. Teria cabido a Jon
Arryn lidar com tudo isso. Agradava-lhe pensar que dava um rei melhor
do que Robert.
O céu
que se via da janela já começava a clarear. Cersei sentou-se na
cama ao lado da Senhora Merryweather, escutando sua suave respiração,
observando seus seios subir e descer. Sonhará ela com Myr? Perguntou
a si mesma. Ou será com seu amante da cicatriz, o homem perigoso de
cabelos escuros que não se deixava recusar? Tinha bastante certeza
de que Taena não sonhava com Lorde Orton.
Cersei
envolveu o seio da outra mulher numa mão. A princípio com
suavidade, quase sem tocá-lo, sentindo na palma da mão o calor que
ele emitia, a pele macia como cetim. Deu-lhe um apertão brando, e,
então, percorreu levemente o grande mamilo escuro com a unha, de um
lado para o outro, e de um lado para o outro novamente, até que o
sentiu enrijecer. Quando ergueu os olhos, os de Taena estavam
abertos.
- Isto é
bom? - perguntou.
- Sim -
Senhora Merryweather respondeu.
- E isto?
- Cersei beliscou o mamilo, puxando-o com força, torcendo-o entre
seus dedos.
A mulher
de Myr soltou uma arfada de dor.
- Está
me machucando.
- É só
o vinho. Bebi um jarro no jantar e outro com a viúva Stokeworth.Tive
de beber para mantê-la calma - torceu também o outro mamilo de
Taena, puxando-o até que a outra mulher arquejou. - Sou a rainha.
Pretendo reclamar meus direitos.
- Faça o
que quiser - os cabelos de Taena eram negros como os de Robert, mesmo
os pelos entre as pernas, e quando Cersei a tocou ali, descobriu-os
encharcados, enquanto os de Robert eram grossos e secos. - Por favor
- disse a mulher de Myr - prossiga, minha rainha. Faça o que quiser
comigo. Sou sua.
Mas não
valia a pena. Não conseguia sentir, fosse o que fosse que Robert
sentia nas noites em que a tomava. Não havia prazer naquilo, pelo
menos para si. Para Taena, sim. Seus mamilos eram dois diamantes
negros, o sexo estava escorregadio e fumegante. Robert teria amado
você durante uma hora. A rainha enfiou um dedo naquele pântano de
Myr, e depois outro, movendo-os para dentro e para fora, mas depois
de se derramar dentro de você, sentiria dificuldade para lembrar seu
nome.
Queria
ver se seria tão fácil com uma mulher como sempre fora com Robert.
Dez mil de seus filhos morreram na palma de minha mão, Vossa Graça,
pensou, enfiando um terceiro dedo em Myr, Enquanto roncava, eu lambia
seus filhos um por um de meu rosto e dedos, todos aqueles pálidos
príncipes pegajosos. Você reclamava seus direitos, senhor, mas na
escuridão eu comia seus herdeiros. Taena estremeceu. Arquejou
algumas palavras numa língua estrangeira e então voltou a
estremecer, arqueou as costas e gritou. Soa como se estivesse sendo
trespassada, pensou a rainha. Por um momento, permitiu-se imaginar
que seus dedos eram as presas de um javali rasgando a mulher de Myr
das virilhas à garganta.
Ainda não
sentia prazer.
Nunca
sentira com ninguém, exceto Jaime,
Quando
tentou afastar a mão, Taena a apanhou e beijou-lhe os dedos.
- Querida
rainha, como posso lhe dar prazer? - fez deslizar a mão pelo flanco
de Cersei e tocou-lhe o sexo. - Diga-me o que quer de mim, meu amor.
-
Deixe-me - Cersei virou-lhe as costas e puxou os cobertores para se
cobrir, estremecendo. A aurora já rompia. Logo seria manhã, e tudo
aquilo seria esquecido.
Jamais
acontecera.
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